sexta-feira, 1 de julho de 2022

Mais que antipetismo, antipartidarismo

 

 

A última pesquisa BTG/FSB de intenção de voto para presidente da república mostrou um cenário estável de polarização entre o ex-presidente Lula, com 43%, e o presidente Bolsonaro, com 33%, deixando pouco espaço para o crescimento dos demais postulantes.

A polarização, em números estáveis na série histórica, também pode ser percebida pela comparação de rejeições — Bolsonaro partiu de 59% de rejeição e atualmente tem 57%, enquanto o Lula partiu de 41% e atualmente tem 44%. Os fenômenos do antipetismo e do antibolsonarismo podem ser observados a partir do debate do antipartidarismo.

A ideia é que uma parte da população, sem preferência partidária, se manifesta contra um partido específico. No caso brasileiro, o único partido de massas organizado é o PT, com ampla base sindical e em movimentos sociais, como o MST, o que pode ter concentrado o sentimento antipartidário.

Este movimento pode ter sido reforçado por dois momentos, um de curto e outro de longo prazo. O de curto prazo está associado às crises econômicas e políticas a partir de 2013. O aumento do desemprego e os escândalos de corrupção impactaram fortemente a avaliação do governo, gerando um sentimento de aversão ao governo da ocasião. Este fato pode ser observado pela trajetória histórica dos índices de rejeição. A rejeição ao candidato do PT em 2002 era de 33% e se manteve próxima em 2006, marcando 32%. Os bons resultados econômicos e sociais do governo levaram a uma queda expressiva da rejeição, para cerca de 23% em 2010. Com o início da crise em 2014, este patamar subiu para 30% e, após a crise econômica e os escândalos de corrupção, este patamar alcançou 40%, nível da rejeição do candidato do PT em 2014. Atualmente, a rejeição está em 44%.

A escalada da rejeição pode ter sido reforçada por uma questão de longo prazo e global. A frustração com as respostas do Estado aos desafios de um mundo mais globalizado e competitivo gerou uma rejeição à democracia em vários países. Pode ser o caso também no Brasil, com parte do eleitorado apoiando discursos antidemocráticos.

Esta avaliação permite duas conclusões: a primeira é que o antipartidarismo, no caso brasileiro, tende a estar associado sempre ao PT e a segunda é que a intensidade deste comportamento oscila ao longo do tempo, conforme os ciclos econômicos e políticos.  O retrato atual mostra que há ainda uma memória da crise, contribuindo para a polarização do cenário político.

 


 

* texto construído coletivamente, como atividade final da disciplina Análise Política e Opinião Pública da pós graduação em Ciência Política da FESP-SP. Autoria de Claudia Alves, Isllane Alcântara, Lucas Colacino, Luiz David Costa Faria, Renan Ometto Lazzarini e Roberto Padovani.

Um comentário:

  1. Interessante a perspectiva é análise desse momento em que nos encontramos. Grata

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