segunda-feira, 23 de julho de 2018

Pega na mentira


Hit do cantor Erasmo Carlos de 1981, a música “Pega na mentira”´, de forma descontraída e bem humorada, citava uma série de fatos sabidamente inverídicos e utilizava de seu refrão para falar que temos que combater a divulgação de mentiras, personificando-a como um animal a ser pego e maltratado.
Os tempos passaram e a nossa conhecida mentira cresceu e se transformou num monstro pior, agora denominado pela expressão em língua inglesa “fake news”.
O fenômeno chamou tanto a atenção que, em 2017, a expressão "Fake news", "notícias falsas", devido à sua repercussão e crescente utilização, foi nomeada a "palavra do ano" pelo dicionário em inglês da editora britânica Collins.

 Fake News virou verbete no dicionário britânico da Harper Collins, uma das 5 maiores editoras do mundo em língua inglesa.

Na Era Digital, todos nós passamos de simples consumidores de notícias produzidas pelos tradicionais órgãos da imprensa, seja ela rádio televisiva ou escrita, e nos tornamos disseminadores de notícias produzidas pelas mais diversas fontes, no mais das vezes sem qualquer verificação de seu conteúdo, inclusive formulando análises e comentários valorando-os, sempre como se fossem verdade absoluta.
O tradicional ditado popular “a mentira tem perna curta” deixou de fazer sentido, visto que este mal ganhou longas pernas e velocidade incontrolável, surfando nas ondas da internet, principalmente, por meio de nossos perfis nas redes sociais.
A prática disseminatória de mentiras ganhou maior relevância após as eleições presidenciais americanas e no referendo do Brexit, em 2016, no escândalo da Cambridge Analytica, no qual se descobriu que esta empresa utilizou-se de dados de usuários em redes sociais para proliferar notícias falsas, direcionadas de forma cirúrgica, de acordo com tendências ideológicas, como forma de influenciar ao eleitorado e afetar decisivamente o resultado daqueles pleitos.
Ocorre que, à partir do momento em que compartilhamos notícias e formulamos comentários sobre o conteúdo passamos a ser corresponsáveis pelas “fake news”.
Tal fato é tão relevante e nocivo, que no Brasil o Código Eleitoral prevê que é crime “Divulgar, na propaganda, fatos que sabe inverídicos, em relação a partidos ou candidatos e capazes de exercerem influência perante o eleitorado” (art. 323 da Lei 4.737/1965).
Para os cidadãos em geral, há a possibilidade de enquadramento em crimes contra a honra, na lei comum (Código Penal), ou o crime de contratação direta ou indireta de grupo de pessoas com a finalidade específica de emitir mensagens ou comentários na internet para ofender a honra ou denegrir a imagem de candidato, partido ou coligação” na esfera eleitoral (§1º do art. 57-H da Lei nº 9.504/1997).
Precisamos estar cientes dos danos que uma notícia falsa pode causar, de forma indelével e continuada, à reputação de qualquer pessoa, dentro ou fora das eleições, e cuidar do conteúdo do que divulgamos, bem como dos comentários que emitimos.
O conteúdo publicado na web é replicada de forma descontrolada e as fake news se propagam de forma exponencial, não permitindo sua total remoção depois de lançadas, perpetrando seus efeitos contra os atingidos e levando inadvertidos a erro quanto a seu conteúdo.
Assim, temos que agir com mais segurança e responsabilidade, para tanto, primeiramente é bom verificar a fonte da notícia, constatando se é originada de órgão confiável, após, fazer uma pesquisa sobre o conteúdo, principalmente quando causar choque a nosso senso comum.
Para colaborar com este processo, hoje em dia, as redes sociais vem criando diversos meios de controle e verificação de conteúdos, inclusive utilizando-se dos serviços das Agências de Checagem de Fatos, das quais destacamos no Brasil a Agência Lupa (https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/), Aos Fatos (https://aosfatos.org/), Boatos.org (http://www.boatos.org/) e e-Farsas (http://www.e-farsas.com/), podendo tal instrumento ser utilizado por nós no dia a dia.
Lembre-se que seu clique pode ser um gatilho contra a honra de uma pessoa, e você pode ser usado como arma neste sistema, haja com inteligência e controle os impulsos ao postar na internet.