sábado, 8 de janeiro de 2022

A ameaça comunista.

Em 1952, a histeria anti-comunista tomou conta dos EUA. Era a segunda vez que isto acontecia. O alvo eram os professores. 

No final do seu mandato, Truman passou lei dizendo que comunistas não poderiam ser professores. Apenas o sindicato reagiu. Mais de 1500 professores em todo o país foram demitidos. Na maioria dos lugares, bastava a palavra do diretor ou de alguém da comunidade para caracterizar o docente como comunista. 

Em NY, o sindicato resolveu resistir e exigiu processos com direito de defesa. 

Dois casos impressionam. Uma professora, de origem judaica, acusada de comunismo, foi descrita por seu diretor como "tendo uma imensa capacidade de ensinar o marxismo-leninismo com bloquinhos de madeira com letras". 

Ela era alfabetizadora. E começou a receber cartas da comunidade com os dizeres "comunismo é judeu e judeus não são bons americanos" ou "hitler estava certo!". 

Quando recebeu o veredicto, a professora se suicidou. 

O comitê investigativo usou o suicídio como prova da culpa e da competência das investigações. 

Outro caso, outra professora, desta vez trabalhava no Harlem. 

A comunidade negra se mobilizou em sua defesa. Testemunhos diziam que nenhum professor tinha o cuidado e a paciência de Bella Dodd para ensinar as crianças negras. 

O comitê usou isto como prova de que ela era comunista. Entre as "provas" tinha o depoimento de um carteiro informando que via seguidamente Bella nas áreas mais pobres do Harlem "perguntando por e ajudando crianças, inclusive doando roupas no inverno". O carteiro completou dizendo que achava isto "bem comunista".



Nos anos 50 a CIA, em memorandos internos, reclamava que o custo para infiltrar agentes no mundo soviético era muito alto e que todos eles eram descobertos e mortos. 

Entretanto, o comunismo exercia "uma papel mágico no encantamento dos americanos, sobretudo os mais bem formados". 

Segundo a CIA "todo professor é um espião soviético em potencial" e "quanto mais estudado mais vulnerável". Professores com doutorado eram quase certamente espiões.


Não é a primeira vez que a burrice e a ignorância torcem os discursos para se fazerem superiores. Nos EUA, consciência social e trabalho pelos mais pobres era prova de "comunismo" e os mais bem formados inclinarem-se pelo comunismo não era prova da correção ou mesmo de viabilidade destas ideias, mas a demonstração da "mágica" comunista e um argumento contra a ciência e os intelectuais.


Todo regime de ignorantes ataca essencialmente professores, universidades, as artes e a história. Atacam irracionalmente e usam a irracionalidade como argumento de defesa contra a ciência e a lógica. Estamos vendo tudo isto de novo. 


- Fernando Horta - @FernandoHortaOf

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